Como Transformei um Conto Erótico numa História de Medos, Amores e Desamores




Um destes dias acordei e resolvi escrever um conto erótico. Não sei porquê, acordei para ali virada. Então, se bem pensei, melhor o fiz. Comecei a escrever, a escrever, mas, para meu grande espanto, não me saía o erotismo das teclas para a alva página do Word. “Que raio… então o que é isto? Se sabes escrever, escreve, isso é uma coisa tão fácil… é só imaginar umas cenas envolventes e já está!”, pensei eu e lá continuei a escrever e a apagar, a escrever e a apagar, a escrever e a apagar…

Nenhuma cena picante se transformava em envolvente. Se imaginava uma cena na praia, a heroína em vez de se deixar agarrar pelo herói, para se rebolarem na areia, preferia viajar nas ondas, nadar e mergulhar, curtindo a bom curtir a água fria e salgada, enquanto que o infeliz e apetecível rapagão tiritava de frio à beira-mar. Se imaginava uma cena em frente à lareira, num escaldante ambiente cheio de potencialidades, logo o herói lhe apetecia ir para a cozinha fazer bolachinhas de manteiga, enquanto a bela heroína, nua e sedutora, roía as unhas acabadinhas de pintar, em frente à lareira onde crepitava um lume de se lhe tirar o chapéu. “Ora bolas, assim não há conto erótico que se aguente!”, disse de mim para mim. Já farta de personagens tão rebeldes, desisti da ideia do erótico e fiquei-me pelo conto. Então comecei a construir uma história…

Nunca tinha construído uma história com mais de duas páginas. Quando dei conta, o meu conto já tinha catorze páginas. Foi aqui que me senti completamente perdida. Sempre que abria aquele documento ficava assustada sem saber como tratá-lo. Lia e relia, acrescentava umas ideias cortava outras, depois voltava a ler e gostava ainda menos. Foi angustiante. Nessa altura o meu conto já ia com 21 páginas e eu já não sabia como abordá-lo. Eram muitas páginas, demasiadas palavras, uma infinidade de ideias. O meu cérebro já parecia um carrossel desgovernado, num parque de diversões abandonado. Então resolvi pedir ajuda.

Não, não fui ao psiquiatra. Escrevi ao José Sidney Pereira e contei-lhe o meu dilema. O José, que é um escritor brilhante e um amigo ímpar – com paciência de Job e que já tem garantido um lugar no céu, sem necessidade de pagar o dízimo a chulos -, atendeu-me de imediato. Leu a história e as minhas lamentações – sim porque eu tive o descaramento de escrever um choradinho no final de cada capítulo – e ajudou-me a arrumar as ideias e também o texto. Deu-me conselhos para o andamento e crescimento das personagens e a força necessária para eu não desistir do conto. Zé, sem a tua ajuda e incentivo, esta história já estava na reciclagem. Obrigada!

Agora a minha história está quase pronta. O meu bêbado, mais conhecido por marido, apesar de não gostar de histórias romanceadas, fez-me o enorme favor de dizer que gostava desta (só para me calar, claro). Para além disso, ainda fez a revisão ortográfica e sintáctica do texto, o que foi uma ajuda enorme. Deste modo, na próxima semana, depois de concluídos os formalismos legais: registo de propriedade intelectual e depósito de uma cópia do conto no IGAC, publicarei aqui um capítulo por semana.

Caros leitores e amigos, não se acanhem em criticar, elogiar, arrasar, mandar rajadas de metralhadora, mandar flores (rosas, se faz favor), tiros de canhão ou simplesmente, mandarem-me dar uma volta ao bilhar grande. Tenho a certeza que entre mortos e feridos, quem fica a ganhar, sou eu!